OS LUSÍADAS de Luís de Camões[1]
O poema épico se organiza
tradicionalmente em cinco partes:
1. Proposição (Canto I,
Estrofes 1 a 3): Apresentação da
matéria a ser cantada: os feitos
dos navegadores portugueses, em especial os da esquadra de Vasco da Gama e a
história do povo português;
2. Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5): O poeta invoca o auxílio das musas do
rio Tejo, as Tágides, que irão inspirá-lo na composição da obra;
3. Dedicatória (Canto I,
Estrofes 6 a 18): O poema é
dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé
católica e continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo;
4. Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144): A matéria do
poema em si. A viagem de Vasco da Gama e as glórias da história heroica
portuguesa;
5. Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156).
Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua “voz rouca” não ser ouvida
com mais atenção.
Camões
e o classicismo português.
O renascimento literário atingiu seu ápice, em Portugal, durante o período conhecido como Classicismo, entre 1527 e 1580. O marco de seu início é o retorno a Portugal do poeta Sá de Miranda, que passara anos estudando na Itália, de onde traz as inovações dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decassílabo e as posturas amorosas do Doce stil nouvo.
O renascimento literário atingiu seu ápice, em Portugal, durante o período conhecido como Classicismo, entre 1527 e 1580. O marco de seu início é o retorno a Portugal do poeta Sá de Miranda, que passara anos estudando na Itália, de onde traz as inovações dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decassílabo e as posturas amorosas do Doce stil nouvo.
Mas foi Luís de Camões, cuja vida se estende exatamente durante este período, quem aperfeiçoou, na Língua Portuguesa, as novas técnicas poéticas, criando poemas líricos que rivalizam em perfeição formal com os de Petrarca e um poema épico, Os Lusíadas, que, à imitação de Homero e Virgílio, traduz em verso toda a história do povo português e suas grandes conquistas, tomando, como motivo central, a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama em 1497/99.
Para cantar a história do povo português, em Os Lusíadas, Camões foi buscar na antiguidade clássica a forma adequada: o poema épico, gênero poético narrativo e grandiloquente, desenvolvido pelos poetas da antiguidade para cantar a história de todo um povo. A Ilíada e a Odisseia, atribuídas a
Homero (Século VIII a. C), através da narração de episódios da Guerra de Tróia, contam as lendas e a história heroica do povo grego. Já a Eneida, de Virgílio (71 a 19 a.C.), através das aventuras do herói Enéas, apresenta a história da fundação de Roma e as origens do povo romano.
Ao compor o maior monumento poético da Língua Portuguesa, Os Lusíadas, publicado em 1572, Camões copia a estrutura narrativa da Odisseia de Homero, assim como versos da Eneida de Virgílio. Utiliza a estrofação em Oitava Rima, inventada pelo italiano Ariosto, que consiste em estrofes de oito versos, rimadas sempre da mesma forma: ABABABCC. A epopeia se compõe de 1102 dessas estrofes, ou 8816 versos, todos decassílabos, divididos em 10 cantos.
CANTO
I
Depois do Concílio dos Deuses, a armada de Vasco da Gama
chega a Moçambique onde para para se
abastecer. Aí recebe a bordo da nau alguns Mouros da Ilha. O Régulo, isto é, o
chefe da Ilha, é recebido por Vasco da Gama.O
Mouro, quando verifica que os Portugueses eram Cristãos, inspirado por Baco,
resolve destruí-los. Quando Vasco da Gama desembarca na ilha‚ é atacado
traiçoeiramente, mas com a ajuda dos marinheiros portugueses consegue vencer os
mouros. Após o triunfo, Vasco da Gama recebe a bordo um piloto, que recebera
ordens para levar os portugueses a cair numa cilada em Quíloa. Quando a armada
se aproximava de Quíloa, Vênus, que descobrira a traição de Baco, afasta a
armada da costa por meio de ventos contrários, anulando assim a traição. O
piloto mouro tenta outras vezes aproximar a armada da costa para a destruir,
mas Vênus está atenta e impede que isso aconteça. Entretanto os portugueses
continuam a viagem para Norte e chegam a Mombaça, cujo rei fora avisado por
Baco para receber os portugueses e os destruir.
CANTO
II
O rei de Mombaça convida a
armada portuguesa a entrar no porto a fim de destruí-la. Vasco da Gama, por
medida de segurança, manda desembarcar dois condenados portugueses,
encarregados por ele de obterem informações acerca da terra. Baco disfarça-se
de sacerdote cristão. Os dois portugueses são levados a casa onde ele se
encontra e veem em Baco um sacerdote cristão junto a um altar onde se
representavam Cristo e os Apóstolos. Quando os portugueses regressam à armada, dão informações falsas a Vasco da
Gama, convencidos de que estavam entre gente Cristã. Vasco da Gama resolve
entrar com a armada no porto de Mombaça. Vênus apercebe-se do perigo e, com a
ajuda das Nereides, impede os barcos de entrar no porto. Perante o espanto de
todos, apesar do vento empurrar os barcos em direção à cilada, eles não
avançam. O piloto mouro e os companheiros que também tinham sido embarcados na
ilha de Moçambique, pensando que os seus objetivos tinham sido descobertos,
fogem precipitadamente lançando-se ao mar, perante a admiração de Vasco da
Gama, que acaba por descobrir a traição que lhe estava preparada e à qual
escapou milagrosamente. Vasco
da Gama agradece à Divina Guarda o milagre concedido e pede-lhe que lhe mostre
a terra que procura. Vênus, ouvindo as suas palavras, fica comovida e vai ao
Olimpo queixar-se a Júpiter pela falta de proteção dispensada pelos deuses aos
Portugueses. Júpiter fica comovido e manda Mercúrio a terra para preparar uma
recepção em Melinde aos Portugueses e inspirar a Vasco da Gama qual o caminho a
seguir. A armada continua a viagem e chega a Melinde, onde é magnificamente
recebida. Vasco da Gama envia um embaixador a terra e o rei acolhe-o
favoravelmente. Após
várias manifestações de contentamento em terra e na armada, o rei de Melinde
visita a armada portuguesa.
CANTO III
O
narrador começa por invocar Calíope, musa da poesia épica, para que lhe ensine
o que Vasco da Gama contou ao rei de Melinde. A partir daqui o narrador passa a
ser Vasco da Gama. Segundo ele, não contará história estranha, mas irá ser
obrigado a louvar os seus, o que, segundo ele, não será o mais correto. Por
outro lado, receia que o tempo de que dispõe, por mais longo que seja se torne
curto para tantos e tão grandiosos feitos. Mas obedecerá ao seu pedido, indo
contra o que deve e procurando ser breve. E, para que a ordem leve e siga, irá
primeiro tratar da larga terra e, em seguida, falará da sanguinosa guerra.
Após a descrição da Europa, Vasco da Gama fala das origens de Portugal, desde Luso a Viriato, indicando também a situação geográfica do seu país relativamente ao resto da Europa. A partir da estância 23, começa a narrar a História de Portugal desde o conde D. Henrique até D. Fernando, último rei da primeira dinastia. Os principais episódios narrados dizem respeito aos reinados de D. Afonso Henriques e a D. Afonso IV. Relativamente ao primeiro rei de Portugal, refere as diferentes lutas travadas por ele: contra sua mãe, D. Teresa, contra D. Afonso VII e contra os mouros, para alargamento das fronteiras em direção ao sul. São de destacar os episódios referentes a Egas Moniz (estâncias 35-41) e a Batalha de Ourique (estâncias 42-54). No reinado de D. Afonso IV, destacam-se os episódios da formosíssima Maria, em que sua filha lhe vem pedir ajuda para seu marido, rei de Castela, em virtude de o grão rei de Marrocos ter invadido a nobre Espanha para a conquistar; o episódio da batalha do Salado, em que juntos os dois Afonsos vencem o exército árabe; e, finalmente, o episódio de Inês de Castro, a mísera e mesquinha que depois de morta foi rainha.
Após a descrição da Europa, Vasco da Gama fala das origens de Portugal, desde Luso a Viriato, indicando também a situação geográfica do seu país relativamente ao resto da Europa. A partir da estância 23, começa a narrar a História de Portugal desde o conde D. Henrique até D. Fernando, último rei da primeira dinastia. Os principais episódios narrados dizem respeito aos reinados de D. Afonso Henriques e a D. Afonso IV. Relativamente ao primeiro rei de Portugal, refere as diferentes lutas travadas por ele: contra sua mãe, D. Teresa, contra D. Afonso VII e contra os mouros, para alargamento das fronteiras em direção ao sul. São de destacar os episódios referentes a Egas Moniz (estâncias 35-41) e a Batalha de Ourique (estâncias 42-54). No reinado de D. Afonso IV, destacam-se os episódios da formosíssima Maria, em que sua filha lhe vem pedir ajuda para seu marido, rei de Castela, em virtude de o grão rei de Marrocos ter invadido a nobre Espanha para a conquistar; o episódio da batalha do Salado, em que juntos os dois Afonsos vencem o exército árabe; e, finalmente, o episódio de Inês de Castro, a mísera e mesquinha que depois de morta foi rainha.
CANTO IV
O
canto IV começa por referir o interregno que se seguiu à morte de D. Fernando,
entre 1383-85, e, em seguida, foca o reinado de D. João I, apresentando-nos os
preparativos para a guerra com Castela, a figura de D. Nuno Alvares Pereira, o
seu insurgimento contra aqueles que se colocaram ao lado de Castela, entre os
quais se contam os seus próprios irmãos, e a Batalha de Aljubarrota, que opôs
D. João I de Portugal a D. João I de Castela. Em seguida, é narrada a conquista
de Ceuta e o martírio de D. Fernando, o Infante Santo. São a seguir apresentados os reinados a seguir a D.
João I, entre os quais os de D. Afonso V e de D. João II. No reinado de D.
Manuel I, é apresentado o seu sonho profético (estâncias 67-75). D. Manuel I
confia a Vasco da Gama o descobrimento do caminho marítimo para a Índia e é-nos
depois apresentada a partida das naus, com os preparativos para a viagem, as
despedidas na praia de Belém e, finalmente, o episódio do velho do Restelo, no
qual um velho de aspecto venerando critica os descobrimentos, apontando os seus
inconvenientes e criticando mesmo o próprio rei D. Manuel I, que deixava
criar às portas o inimigo, no Norte de
África, para ir buscar outro tão longe, despovoando-se o reino e enfraquecendo-o
consequentemente.
CANTO V
Vasco
da Gama, que continua a sua narração ao rei de Melinde, apresenta agora, no
começo deste canto, a largada de Lisboa e o afastamento da armada até ao
desaparecimento no horizonte da fresca serra de Sintra. A viagem prossegue
normalmente até à passagem do Equador,
momento a partir do qual Vasco da Gama refere diversos fenómenos
meteorológicos, tais como súbitas e medonhas trovoadas, o fogo de Santelmo e a
tromba marítima (estâncias 16-23). Chegados à ilha de Santa Helena, os portugueses contatam
com um nativo, a quem oferecem vários objetos. Crendo haver conquistado a
confiança dos nativos, Fernão Veloso aventura-se a penetrar na ilha de Santa
Helena. A certa altura, surge a correr a toda pressa, perseguido por vários
nativos, tendo Vasco da Gama de ir a seu socorro, travando-se uma pequena luta
entre eles, da qual saiu Vasco da Gama ferido numa perna. Regressados aos barcos, os marinheiros
procuram gozar com Fernão Veloso, dizendo-lhe que o outeiro fora melhor de
descer do que subir. Este, sem se desconcertar, respondeu-lhes que correra à
frente dos nativos por se ter lembrado que os companheiros estavam ali sem a
sua ajuda (estâncias 24-36). Junto
ao Cabo das Tormentas, ocorre o episódio do Gigante Adamastor (estâncias
37-60), o qual faz diversas profecias aos portugueses e, em seguida,
interpelado por Vasco da Gama, conta a sua história. Vasco da Gama relata o resto da viagem até Melinde,
tendo referido também a mais crua e feia doença jamais por ele vista: o
escorbuto. O canto termina com os elogios feitos pelo Gama à tenacidade
portuguesa e com a invectiva do poeta contra os portugueses seus contemporâneos
por desprezarem a poesia e a técnica que lhe corresponde.
CANTO VI
Após
as festas de despedida, a armada larga de Melinde para prosseguir a viagem até
à Índia, levando a bordo um piloto melindano. Entretanto Baco desce ao palácio
de Neptuno, a fim de incitar os deuses marinhos contra os portugueses, pois
vê-os quase a atingir o império que ele tinha na Índia. Baco é recebido por
Neptuno no seu palácio e explica-lhe os motivos da sua vinda. Por
ordem de Neptuno, Tritão vai convocar todos os deuses marinhos para o concílio.
Assim que se encontram todos reunidos, Baco profere o seu discurso,
apresentando honesta e claramente as razões da sua presença. As lágrimas
interrompem-lhe a dado momento as palavras, fazendo com que de imediato todos
os deuses se inflamassem tomando o seu partido. Neptuno manda a Eolo recado
para que solte os ventos, gerando assim uma tempestade que destrua os
portugueses (estâncias 6-37). Sem
nada pressentirem, os portugueses contam histórias para evitarem o sono, entre
as quais a dos Doze de Inglaterra (estâncias 43-69). Quando se apercebem da
chegada da tempestade, a fúria com que os ventos investem é tal que não lhes dá
tempo de amainar as velas, rompendo-as e quebrando os mastros. É tal a fúria
dos elementos que nada lhes resiste. As areias no fundo dos mares veem-se
revolvidas, as árvores arrancadas e com as raízes para o céu e os montes
derribados. Na armada a situação é caótica. As gentes gritam e veem perto a
perdição, com as naus alagadas e os mastros derribados. Vendo-se perdido, Vasco
da Gama pede ajuda à Divina Guarda. Vênus
apercebe-se do perigo em que os portugueses se encontram e, adivinhando que se
trata de mais uma ação de Baco, manda as Ninfas amorosas abrandarem as iras dos
ventos. Quando a tempestade se acalma (estâncias 70-85), amanhecia e o piloto
melindano avista a costa de Calecut. O canto termina com a oração de
agradecimento de Vasco da Gama e com uma reflexão do poeta acerca do verdadeiro
valor da glória.
CANTO VII
Os
portugueses, que tinham chegado à Índia ainda no Canto VI (estância 92), agora,
na primeira estrofe do Canto VII entram na barra de Calecut. Na estrofe 2, o
narrador faz o elogio do espírito de cruzada luso e exorta as outras nações
europeias a seguirem o exemplo dos Portugueses na luta contra os infiéis
(estâncias 2 a 15). Uma vez chegados a terra, pescadores em leves embarcações
mostram aos portugueses o caminho para Calecut, onde vive o rei da Índia. Das
estâncias 17 a 22, é feita a descrição da Índia e apresentados os primeiros
contatos com Calecut. Vasco da Gama avisa o rei da sua chegada e manda a terra
o degredado João Martins. Este mensageiro encontra o mouro Monçaide, que já
estivera em Castela e sabia quem eram os portugueses, ficando muito admirado
por os ver tão longe da pátria. Convida-o a ir a sua casa, onde o recebe e lhe
dá de comer. Depois disto, Monçaide e o enviado regressam à nau de Vasco da
Gama. Monçaide visita a frota e fornece elementos acerca da Índia. Algum tempo
depois, Vasco da Gama desembarca com nobres portugueses, é recebido pelo
Catual, que o leva ao palácio do Samorim. Após os discursos de apresentação, o
Samorim recebe os portugueses no seu palácio. Enquanto estes aqui permanecem, o
Catual procura colher informações junto de Monçaide acerca dos portugueses e,
em seguida, visita a nau capitania, onde é recebido por Paulo da Gama, a quem
pergunta o significado das figuras presentes nas bandeiras de seda. Das
estâncias 77 até ao fim do Canto VII, Camões invoca as ninfas do Tejo e também
as do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios.
CANTO VIII
Paulo da Gama continua a explicar o significado das figuras nas bandeiras portuguesas ao Catual, que se mostra bastante interessado, fazendo várias perguntas. Após a visita, o Catual regressa a terra. Por ordem do rei da Índia (estâncias 45 a 46) os Arúspices fazem sacrifícios, porque adivinham eterno cativeiro e destruição da gente indiana pelos portugueses. Entretanto, Baco resolve agir contra os portugueses. Aparece em sonhos a um sacerdote árabe (estâncias 47 a 50) incitando-o a opor-se aos portugueses. Quando acorda, o sacerdote maometano instiga os outros a revoltarem-se contra Vasco da Gama. Vasco da Gama procura entender-se com o Samorim, que, após violenta discussão, ordena a Vasco da Gama que regresse à frota, mostrando-lhe o desejo de trocar fazendas europeias por especiarias orientais. Subornado pelos muçulmanos, o Catual impede o cumprimento das ordens do Samorim e pede a Vasco da Gama que mande aproximar a frota para embarcar, com o intuito de a destruir. Vasco da Gama, astuto e desconfiado, não aceita a proposta, sendo preso pelo Catual. Com o receio de ser castigado pelo Samorim, por causa da demora, o Catual apresenta nova proposta a Vasco da Gama: deixa-o embarcar, mas terá de lhe dar em troca fazendas europeias. Vasco da Gama aceita e regressa à frota, depois de ter entregue as mercadorias pedidas. O canto acaba com as reflexões do poeta acerca do poder do «metal luzente e oiro».
CANTO IX
Dois
feitores portugueses são encarregados de vender as mercadorias, mas são detidos
em terra, para retardar a partida da armada portuguesa, a fim de dar tempo a
que uma armada muçulmana viesse de Meca para a destruir. O
Gama é informado disso pelo árabe Monçaide e, por isso, decide partir,
procurando fazer com que os dois feitores portugueses regressem secretamente à
armada, mas não consegue o que pretende. Como represália, impede vários
mercadores da Índia de regressarem a terra e, tomando-os como reféns, ordena a
partida. Por
ordem do Samorim, são restituídos a Vasco da Gama os dois feitores portugueses
e as fazendas, após o que se iniciou o regresso a casa (estâncias 13 a 17). Vênus
decide preparar o repouso e prémio para os portugueses (estâncias 18 a 21).
Dirige-se, com esse objetivo, a seu filho Cupido (estâncias 22 a 50), e manda
reunir as Ninfas numa ilha especialmente preparadas para acolhê-los. A
«Ilha dos Amores», cuja descrição se apresenta nas estâncias 52 a 55, era uma
ilha flutuante que Vênus colocou no trajeto da armada, de modo a que esta,
infalivelmente, a encontrasse. Os
portugueses desembarcaram na ilha e as Ninfas deixam-se ver, iniciando-se uma perseguição.
Para aumentar o desejo dos portugueses, as Ninfas opuseram uma certa
resistência, apenas se deixando apanhar ao fim de algum tempo, efetuando-se,
então, o «casamento» entre elas e os marinheiros. Tétis, a maior, e a quem todo o
coro das Ninfas obedecia, apresentou-se a Vasco da Gama, recebendo-o com
honesta e régia pompa. Depois de se ter apresentado e dado a entender que ali
viera por alta influição do Destino, tomando o Gama pela mão, levou-o para o
seu palácio, onde lhe explicou (estâncias 89 a 91) o significado alegórico da
«Ilha dos Amores»: as Ninfas do Oceano, Tétis e a Ilha outra coisa não são que
as deleitosas honras que a vida fazem sublimada. O
Canto IX termina com uma exortação dirigida aos que aspiram a imortalizar o seu
nome.
CANTO X
Tétis
e as restantes ninfas oferecem um banquete aos navegantes e durante ele uma
ninfa começa a escrever os futuros feitos dos portugueses. Entretanto (estâncias
8-9) o poeta interrompe-lhe a descrição para invocar uma vez mais Calíope. Finda
a invocação, a ninfa retoma o seu discurso, falando dos heróis e futuros
governadores da Índia. A
partir da estância 74, onde acaba a prolepse (avanço no tempo, ou seja,
previsão de factos futuros), Tétis conduz Vasco da Gama ao cimo de um monte,
onde lhe mostra uma miniatura do Universo e descobre, no orbe terrestre, os
lugares onde os portugueses irão praticar altos feitos. Dentro das várias
profecias, Tétis narra o martírio de S. Tomé e faz referência ao naufrágio de
Camões. Finalmente, Tétis despede os portugueses, que embarcam para
empreenderem a viagem de regresso (estâncias 142-143), cuja viagem se efetua
com vento sempre manso e favorável, chegando
à foz do Tejo sem quaisquer problemas (estância 144). Das estâncias 145 a 156 são apresentadas
lamentações, exortações a D. Sebastião e vaticínios de futuras glórias.
Episódios importantes
1.
Concílio
dos Deuses [canto I]: Neste momento, é convocado o Concílio dos deuses (estrofes 20 a 41) para decidir se os portugueses devem ou
não conseguir alcançar o seu destino. Júpiter afirma que sim, porque isso lhes está predestinado;
2. Inês de Castro [canto III]: episódio
lírico-trágico (estrofes 118 a 135), talvez o mais reconhecido d'Os Lusíadas.
D. Inês e D. Pedro são os amantes trágicos por excelência. O seu amor é
ilícito, proibido pelos poderes. O poeta que tinha escrito sonetos tão
sombrios, de sofrimento amoroso, chama repetidamente este de «puro amor», e
censura o rei, de quem tanto elogiara os feitos guerreiros, por esta sombra no
seu reinado. D. Afonso IV pretende casar o filho que, apaixonado por Inês,
recusa. A solução é eliminá-la. Trazida à presença do rei, esta implora pela
sua vida, só para poder cuidar dos seus filhos. Comove o velho soberano, mas os
conselheiros e o povo exigem a morte. E assim a frágil e bela apaixonada é
assassinada «só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la» (por amar quem
soube conquistar o seu coração);
3. Velho do Restelo [canto IV]: O canto termina com a partida da armada.
Quando estão a despedir-se das famílias na praia de Belém, os navegadores são
surpreendidos pelas palavras de um velho que estava entre a multidão. É o
episódio do Velho do Restelo (estrofes 94 a 104).
Este personagem é a representação da contestação da época contra as aventuras dos descobrimentos. Havia quem pensasse que era puro orgulho e simplesmente suicídio tentar estes projetos de navegar para partes longínquas do mundo; uma perda de recursos e homens, que fariam falta na luta contra os inimigos mouros ou para a defesa do reino contra uma eventual invasão castelhana. O episódio entrou no imaginário português. A expressão passou a significar o conservadorismo, o mau agoiro, a má vontade e a falta de espírito de aventura, frente a projetos originais que exigem alguma ousadia e gastos de recursos;
Este personagem é a representação da contestação da época contra as aventuras dos descobrimentos. Havia quem pensasse que era puro orgulho e simplesmente suicídio tentar estes projetos de navegar para partes longínquas do mundo; uma perda de recursos e homens, que fariam falta na luta contra os inimigos mouros ou para a defesa do reino contra uma eventual invasão castelhana. O episódio entrou no imaginário português. A expressão passou a significar o conservadorismo, o mau agoiro, a má vontade e a falta de espírito de aventura, frente a projetos originais que exigem alguma ousadia e gastos de recursos;
4. Gigante Adamastor [canto V]: Podem-se
considerar três partes no episódio do Adamastor: a primeira é uma teofania
(estrofes 37 a 40). Chegados ao Cabo das Tormentas no meio da uma tempestade,
os marinheiros avistam o titã, tão terrível que «Arrepiam-se as carnes e o
cabelo A mi e a todos só de ouvi-lo e vê-lo». Aqui está o puro pavor, a ameaça
iminente da aniquilação, fisicamente sentida - as carnes engelham-se, os
cabelos crispam-se. Adamastor, escultura de Júlio Vaz Júnior no miradouro de
Santa Catarina, Lisboa, Portugal O espetáculo é envolvente, grandioso,
terrificante. Este semideus maléfico, encarnação dos perigos da arriscada
travessia, precede-se de uma nuvem negra, que surge rasante sobre as cabeças
dos navegantes. Mas mais surpreendente ainda é a orquestração que o mar faz com
este elemento aéreo «Bramindo, o mar de longe brada, Como se desse em vão
nalgum rochedo». O lado maravilhoso desta aparição também é acentuado, fazendo
contrastar todo o espetáculo de deformidade e gigantismo com o cenário
precedente, onde são manifestos os encantos de uma noite dos "mares do
Sul", «prosperamente os ventos assoprando».
Então começa a segunda parte do episódio (estrofes 41 a 48), que em termos cronológico-narrativos é uma prolepse. O Adamastor fala e, como um oráculo, vaticina o destino cruel que espera alguns dos navegadores que atravessarão os seus domínios. É uma forma inteligente de o poeta dos meados do século falar de acontecimentos do passado, mas que seriam futuros para o navegador do início do século que faz a narração.
Finalmente surge uma écloga marinha (estrofes 49 a 59), que obedece a um desenvolvimento comum a muitas composições líricas de Camões: o enamoramento (de Adamastor por Tétis, não correspondido), a separação forçada, a traição, o lamento pelo sonho frustrado, do qual o sofredor é constante e eternamente recordado: «Enfim, minha grandíssima estatura, Neste remoto cabo converteram Os Deuses, e por mais dobradas mágoas, Me anda Tétis cercando destas águas».
Então começa a segunda parte do episódio (estrofes 41 a 48), que em termos cronológico-narrativos é uma prolepse. O Adamastor fala e, como um oráculo, vaticina o destino cruel que espera alguns dos navegadores que atravessarão os seus domínios. É uma forma inteligente de o poeta dos meados do século falar de acontecimentos do passado, mas que seriam futuros para o navegador do início do século que faz a narração.
Finalmente surge uma écloga marinha (estrofes 49 a 59), que obedece a um desenvolvimento comum a muitas composições líricas de Camões: o enamoramento (de Adamastor por Tétis, não correspondido), a separação forçada, a traição, o lamento pelo sonho frustrado, do qual o sofredor é constante e eternamente recordado: «Enfim, minha grandíssima estatura, Neste remoto cabo converteram Os Deuses, e por mais dobradas mágoas, Me anda Tétis cercando destas águas».
5. Ilha dos Amores [cantos IX e X]: Vendo
agora a frota em segurança no seu regresso a Portugal, Vênus pede a ajuda do
seu filho Cupido para juntar os amores e ferir as nereidas com as flechas do
amor. Com as ninfas e Tétis sob esta influência, coloca uma ilha mística na
rota dos portugueses, e a ela traz os amantes.
Podem ser consideradas três descrições no episódio da Ilha dos Amores:
O locus amoenus: o cenário onde decorre o encontro amoroso (estrofes 52 a 67 e mais algumas até ao final do canto) é típico do locus amoenus, com os seus chãos maciamente relvados, águas límpidas e cantantes, arvoredos frondosos e até um lago. O poeta fala ainda da simpática fauna que aí se cria e dos frutos que se produzem sem cultivo. É um cenário paradisíaco, idílico, de écloga.
A alegoria: com um arrojo inesperado para um maneirista, Camões descreve o encontro dos nautas com as ninfas que os esperavam, industriadas por Vênus. O amor que experimentam é de paixão: imediato, arrebatado e carnal. E fica dado o recado aos que condenam a expressão mais física do amor: «Melhor é experimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.»
A recompensa dos portugueses tem um sentido alegórico: «Que as Ninfas do Oceano, tão formosas, Tethys e a Ilha angélica pintada, Outra cousa não é que as deleitosas Honras que a vida fazem sublimada» (estrofe 89). A terminar o canto, dirigindo-se ao leitor, reforça a intenção alegórica e incita aos feitos de valor: «Impossibilidades não façais, Que quem quis sempre pôde: e numerados Sereis entre os heróis esclarecidos E nesta Ilha de Vênus recebidos». Leonardo: Camões, o indefectível cantor do amor, não quis, e se calhar não pôde, evitar que isso se refletisse n'Os Lusíadas. Se os amores mal sucedidos do Adamastor deixam entrever o caso real do poeta, Leonardo (estrofes 75 a 82) aqui representa a consumação do seu sonho. Repare-se que as queixas deste navegante recordam as do poeta na lírica e como é um lamento delicado e belo.
Em um pormenor curioso, houve a intenção de separar e dignificar Vasco da Gama na carnalidade do episódio. É acompanhado por Tétis até a um magnífico palácio de cristal e ouro, enquanto os restantes marinheiros e as suas companheiras ficam nas praias e nos bosques.
Podem ser consideradas três descrições no episódio da Ilha dos Amores:
O locus amoenus: o cenário onde decorre o encontro amoroso (estrofes 52 a 67 e mais algumas até ao final do canto) é típico do locus amoenus, com os seus chãos maciamente relvados, águas límpidas e cantantes, arvoredos frondosos e até um lago. O poeta fala ainda da simpática fauna que aí se cria e dos frutos que se produzem sem cultivo. É um cenário paradisíaco, idílico, de écloga.
A alegoria: com um arrojo inesperado para um maneirista, Camões descreve o encontro dos nautas com as ninfas que os esperavam, industriadas por Vênus. O amor que experimentam é de paixão: imediato, arrebatado e carnal. E fica dado o recado aos que condenam a expressão mais física do amor: «Melhor é experimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.»
A recompensa dos portugueses tem um sentido alegórico: «Que as Ninfas do Oceano, tão formosas, Tethys e a Ilha angélica pintada, Outra cousa não é que as deleitosas Honras que a vida fazem sublimada» (estrofe 89). A terminar o canto, dirigindo-se ao leitor, reforça a intenção alegórica e incita aos feitos de valor: «Impossibilidades não façais, Que quem quis sempre pôde: e numerados Sereis entre os heróis esclarecidos E nesta Ilha de Vênus recebidos». Leonardo: Camões, o indefectível cantor do amor, não quis, e se calhar não pôde, evitar que isso se refletisse n'Os Lusíadas. Se os amores mal sucedidos do Adamastor deixam entrever o caso real do poeta, Leonardo (estrofes 75 a 82) aqui representa a consumação do seu sonho. Repare-se que as queixas deste navegante recordam as do poeta na lírica e como é um lamento delicado e belo.
Em um pormenor curioso, houve a intenção de separar e dignificar Vasco da Gama na carnalidade do episódio. É acompanhado por Tétis até a um magnífico palácio de cristal e ouro, enquanto os restantes marinheiros e as suas companheiras ficam nas praias e nos bosques.
[1] Disponível
em: http://www.mundovestibular.com.br/articles/547/1/OS-LUSIADAS---Luis-de-Camoes-Resumo/Paacutegina1.html. Acesso em: 4/9/11.
[2] Disponível em: http://www.prof2000.pt/users/secjeste/dlrc/seucsec/unid08/lusres.htm. Acesso em: 4/9/11.
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