Alunos: Ana Paula Rosa Costa e Matheus Rodolfo de Oliveira
Turma: 311
Cavador do Infinito
Com a lâmpada do Sonho desce aflito - A
E sobe aos mundos mais imponderáveis, - B
Vai abafando as queixas implacáveis, - B
Da alma o profundo e soluçado grito. - A
Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito - A
Sente, em redor, nos astros inefáveis. - B
Cava nas fundas eras insondáveis - B
O cavador do trágico Infinito. - A
E quanto mais pelo Infinito cava - C
mais o Infinito se transforma em lava - C
E o cavador se perde nas distâncias... - D
Alto levanta a lâmpada do Sonho. - E
E como seu vulto pálido e tristonho - E
Cava os abismos das eternas ânsias! – D
Vocabulário
Imponderáveis: Diz-se de qualquer coisa que não tem peso revelável - tal como a luz, a eletricidade, um corpo muito leve etc.
Ânsias: Aflição, angústia, com sensação de aperto na região precordial. / Fig. Tormento de espírito, causado sobretudo por sentimento de expectativa e incerteza. / Desejo ardente. /
Inefáveis: Inefável, que significa o que não pode ser expresso verbalmente1 , é um termo utilizado para identificar algo de origem divina ou Transcendente e com atributos de beleza e perfeição tão superiores aos níveis terrenos que não pode ser expresso em palavras humanas.
Insondáveis: Que não é possível sondar, a que não se pode achar o fundo: abismo insondável.
Maiscula alegorizante:
"Sonho" (verso 1), "Ânsias" e "Desejos" (verso 4); "Infinito" (versos 8 e 9), o que vem ampliar a significação destas palavras, transcendendo-as.
Figuras de linguagem:
O poeta utiliza uma antítese através dos verbos "descer" e "subir":
"Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis"
anástrofe (anteposição, em expressões nominais, do termo regido de preposição ao termo regente): "Da alma o profundo e soluçado grito".
Personificação também é utilizada pelo poeta, como: no verso 4, "profundo e soluçado grito da alma" = alma que grita, que age como ser humano; e ainda no verso 10, "o Infinito se transforma em lava" = mutação de um ser inanimado.
Nos versos 7 e 8 pode-se notar também uma enfatização do poeta dada através do uso de pleonasmo = o cavador cava...
E uma zeugma (omissão – elipse – de um termo que já apareceu antes, no caso, do termo "vai abafando", citado no verso 3 e omitido no verso 4):
"Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito."
Características simbolisticas
O poema mostra uma busca do "eu-lírico" pela essência do ser uma verdadeira lapidação às camadas mais profundas desse ser, o que comprova a afirmação de que enquanto o Romantismo chega ao coração, o Simbolismo atinge à alma.
O "eu-lírico" ultrapassa o consciente e consegue descer "abissalmente em si mesmo, numa autoviagem que chega às raias do imprevisível", tal como Oliveira (2000:216) aponta sobre os preceitos dos poetas simbolistas. Pode-se comprovar tal afirmação observando, por exemplo, a intensa utilização de palavras - na maioria delas adjetivos - de caráter impreciso, como: "imponderáveis" (verso 2): ou seja, que não se pode avaliar; "implacáveis" (verso 3); "inefáveis" (verso 6), isto é, inexprimíveis, que não se exprimem com palavras, o mesmo que indescritível, maravilhoso; e "insondáveis" (verso 7). A profundidade buscada pelo "eu-lírico" pode ser constatada ainda em termos como: "profundo e soluçado grito" (verso 4); "tudo a fogo escrito" (verso 5); "cava nas fundas" (verso 7); "eternas ânsias" (verso 14).
Considerando ainda que o simbolista opõe-se aos limites do mundo físico e aprecia a integração com o cosmo, com os astros, extravasando e transcendendo assim ao mundo real, que o "eu-lírico" também apresenta fortemente tal aspecto, uma vez que "Sente, em redor, nos astros inefáveis" (verso 6) tudo aquilo que procura: as suas ânsias e os seus desejos. É uma forma de integração com o cosmo, de busca do transcendente, de viagem "aos mundos mais imponderáveis" (verso 6).
Referente ao verso 6: "Sente, em redor, nos astros inefáveis", é possível fazer referência à chamada "teoria das correspondências", a qual propõe um processo cósmico de aproximação entre as realidades física (natureza/realidade concreta) e metafísica (cosmos, transcendência espiritual).
Tambem vemos espiritualmente ao cosmo, exemplificado nos versos abaixo:
"Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis."
Interpretação
O "Cavador do Infinito" reflete a experiência de quem aparentemente se encontra empenhado em um trabalho em vão, mas que também não se deixa dissuadir de seus esforços.Nas palavras de Camus (2006, ONLINE) "A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem"; e desta maneira é possível dizer que, tentando compreender a metáfora utilizada pelo poeta, pode-se chegar à seguinte interpretação: por mais que nossos sonhos estejam longe, distantes, o importante é lutar por eles, prosseguir cavando, pois só o fato de estar tentando alcançá-los vem a ser um consolo à alma, um estímulo para seguir em frente.
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