sábado, 8 de junho de 2013

Últimos sonetos, obra suprema de Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa (1861-1898) não teve tempo para usufruir do reconhecimento e da glória que perseguiu em vida, porque a morte o apanhou antes disso, vítima da miséria e da doença. Foi com Últimos sonetos, volume publicado postumamente em 1905, que se consolidou o aval da comunidade letrada a este artista maior, que ajudou a fundar a moderna poesia brasileira. Este é um dos lançamentos que a Editora da UFSC faz nesta semana, dentro da Feira de Livros que será realizada na Praça da Cidadania, no campus da Trindade. Trata-se da quarta edição da obra: depois da primeira, as outras saíram em 1984  pela Fundação Casa de Rui Barbosa, EdUFSC e FCC Edições e em 1997 pela EdUFSC e Fundação Casa de Rui Barbosa,  já há quase uma década esgotada.

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É impossível dissociar o dilema pessoal, familiar e estético do autor do que ele colocou no papel, já descrente dos homens e do mundo e, mais adiante, já tísico, dominado pela tuberculose que o mataria, no interior de Minas Gerais. Com formação clássica, adotado que fora por uma família abastada da antiga Desterro, hoje Florianópolis, ele tinha noção de sua genialidade, mas trazia na mente as marcas da discriminação – fora impedido, por exemplo, de assumir um cargo público por ser negro. Como poeta, também foi tratado como um pária pela elite literária carioca, onde despontavam figuras aninhadas ao poder, como Olavo Bilac e Coelho Neto.

Sempre sujeito a empregos menores, a atividades que considerava aquém de sua capacidade e talento, a vida pessoal e afetiva do poeta também decaiu por conta da doença da mulher Gavita e dos filhos, que perdeu um a um, em meio à imensa pobreza que o atarantou. Tudo isso, aliado à busca de um ideal estético superior, influenciado pelos simbolistas europeus já consagrados, fez com que se tornasse, ao mesmo tempo, um ser amargurado e um artista em busca permanente da grandeza, do domínio da palavra, da legitimação pelos seus contemporâneos.

“Vida obscura” é um soneto que reflete esta sensação: “Ninguém te viu o sentimento inquieto, / Magoado, oculto e aterrador, secreto, / que o coração te apunhalou no mundo. / Mas eu que sempre te segui os passos / Sei que cruz infernal prendeu-te os braços / E o teu suspiro como foi profundo!”
Outro poema emblemático – cujos versos finais estavam em sua lápide, no cemitério em que permaneceu por muitas décadas, no Rio de Janeiro – é “Triunfo supremo”, em que abre mão dos “fúteis ouropéis mais belos”, ciente de sua vocação para a transcendência, e dá ao mundo o “adeus indefinido”, porque fora feito para outra dimensão. No fim, diz, numa referência ao próprio destino: “Quem florestas e mares foi rasgando / E entre raios, pedradas e metralhas, / Ficou gemendo mas ficou sonhando!”


Por Paulo Clóvis Schmitz,                                                                                                           Jornalista na Agecom


Disponível em: <http://secult.ufsc.br/2011/08/09/ultimos-sonetos-obra-suprema-de-cruz-e-sousa-ganha-reedicao/>


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