João
da Cruz e Sousa (1861-1898) não teve tempo para usufruir do reconhecimento e da
glória que perseguiu em vida, porque a morte o apanhou antes disso, vítima da
miséria e da doença. Foi com Últimos sonetos, volume publicado postumamente em
1905, que se consolidou o aval da comunidade letrada a este artista maior, que
ajudou a fundar a moderna poesia brasileira. Este é um dos lançamentos que a
Editora da UFSC faz nesta semana, dentro da Feira de Livros que será realizada
na Praça da Cidadania, no campus da Trindade. Trata-se da quarta edição da
obra: depois da primeira, as outras saíram em 1984 pela Fundação Casa de Rui Barbosa, EdUFSC e
FCC Edições e em 1997 pela EdUFSC e Fundação Casa de Rui Barbosa, já há quase uma década esgotada.
(...)
É
impossível dissociar o dilema pessoal, familiar e estético do autor do que ele
colocou no papel, já descrente dos homens e do mundo e, mais adiante, já
tísico, dominado pela tuberculose que o mataria, no interior de Minas Gerais.
Com formação clássica, adotado que fora por uma família abastada da antiga
Desterro, hoje Florianópolis, ele tinha noção de sua genialidade, mas trazia na
mente as marcas da discriminação – fora impedido, por exemplo, de assumir um
cargo público por ser negro. Como poeta, também foi tratado como um pária pela
elite literária carioca, onde despontavam figuras aninhadas ao poder, como
Olavo Bilac e Coelho Neto.
Sempre
sujeito a empregos menores, a atividades que considerava aquém de sua
capacidade e talento, a vida pessoal e afetiva do poeta também decaiu por conta
da doença da mulher Gavita e dos filhos, que perdeu um a um, em meio à imensa
pobreza que o atarantou. Tudo isso, aliado à busca de um ideal estético
superior, influenciado pelos simbolistas europeus já consagrados, fez com que
se tornasse, ao mesmo tempo, um ser amargurado e um artista em busca permanente
da grandeza, do domínio da palavra, da legitimação pelos seus contemporâneos.
“Vida
obscura” é um soneto que reflete esta sensação: “Ninguém te viu o sentimento
inquieto, / Magoado, oculto e aterrador, secreto, / que o coração te apunhalou
no mundo. / Mas eu que sempre te segui os passos / Sei que cruz infernal
prendeu-te os braços / E o teu suspiro como foi profundo!”
Outro
poema emblemático – cujos versos finais estavam em sua lápide, no cemitério em
que permaneceu por muitas décadas, no Rio de Janeiro – é “Triunfo supremo”, em
que abre mão dos “fúteis ouropéis mais belos”, ciente de sua vocação para a
transcendência, e dá ao mundo o “adeus indefinido”, porque fora feito para
outra dimensão. No fim, diz, numa referência ao próprio destino: “Quem
florestas e mares foi rasgando / E entre raios, pedradas e metralhas, / Ficou
gemendo mas ficou sonhando!”
Por Paulo Clóvis Schmitz, Jornalista na Agecom
Disponível
em:
<http://secult.ufsc.br/2011/08/09/ultimos-sonetos-obra-suprema-de-cruz-e-sousa-ganha-reedicao/>
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