sexta-feira, 28 de junho de 2013

CONDENAÇÃO FATAL – (Cruz e Sousa – Últimos sonetos) | Ana A. e Kamila - 311


Ó/ mun/do/, que és/ o e/xí/li/o/ dos/ exí/lios, (A)
um/ mon/tu/ro/ de/ fe/zes/ pu/tre/fa/to, (B)
on/de o/ ser/ mais/ gen/til/, mais/ ti/mo/ra/to (B)
dos/ se/res/ vis/ cir/cu/la/ nos/ con/cí/lios; (A)

On/de/ de al/mas/ em/ pá/li/dos/ i/dí/lios (A)
o/ lân/gui/do/ per/fu/me/ mais/ in/gra/to (B)
ma/go/a/ tu/do e é/ tris/te/ co/mo o/ ta/to (B)
de um/ ce/go em/bal/de/ le/van/tan/do os/ cí/lios; (A)

Mun/do/ de/ pes/te/, de/ san/gren/ta/ fú/ria (C)
e/ de/ flo/res/ le/pro/sas/ da/ lu/xú/ria, (C)
de/ flo/res/ ne/gras/, in/fer/nais/, me/do/nhas; (D)

Oh!/ co/mo/ são/ si/nis/tra/men/te/ fe/ios (E)
teus/ as/pec/tos/ de/ fe/ra, os/ teus/ me/ne/ios (E)
pan/té/ri/cos/, ó/ Mun/do/, que/ não/ so/nhas! (D)


Vocabulário

exílio - s.m. Expulsão de alguém de sua pátria; desterro, degredo, expatriação. / Fig. Solidão, lugar triste, sem alegrias. / Religião Fig. A vida terrena, em oposição ao céu.
monturo - s.m. Grande quantidade de lixo, de imundícies, de esterco. / Lugar onde são jogadas essas dejeções. / Fig. Montão, acervo de coisas repugnantes.
putrefato - adj. Que se acha em putrefação; podre.
timorato - adj. Que não assume atitudes por medo ou excesso de escrúpulos; tímido; medroso.
idílio - s.m. Tipo de poema campestre que se desenvolveu entre os antigos gregos. (Sin.: écloga, pastoral.) / Fig. Sonho, fantasia, devaneio.
lânguido - adj. Abatido, debilitado, langoroso: criança lânguida. Voluptuoso. Mórbido. Mole, frouxo.
embalde - adv (em+(de)balde) V debalde.
leprosas - adj. e s.m. Que ou aquele que tem lepra; morfético, hanseniano, lázaro. Fig. Nojento, repulsivo, repugnante; vicioso, vil.
meneios - s.m. Ação de menear; meneamento; movimento do corpo ou de parte dele. Gesto, aceno. Fig. Ardil, astúcia.
pantéricos - Relativo a, ou próprio de pantera.



ANÁLISE DO POEMA CONDENAÇÃO FATAL


Figuras de linguagem

Assonâncias

Ó mundo, que és o exílio dos exílios,
[...]
Onde de almas em pálidos idílios
o lânguido perfume mais ingrato
magoa tudo e é triste como o tato
de um cego embalde levantando os cílios;
Mundo de peste, de sangrenta fúria
e de flores leprosas da luxúria,
de flores negras, infernais, medonhas;

Aliterações

[...] dos seres vis circula nos concílios;
Ondde almas em pálidos idílios
[...] de um cego embalde levantando os cílios;
Mundo de peste, de sangrenta fúria
e de flores leprosas da luxúria,
de flores negras, infernais, medonhas;
Oh! como são sinistramente feios                                               
teus aspectos de fera, os teus meneios
pantéricos, ó Mundo, que não sonhas!

Metáfora: emprego de palavras fora do seu sentido normal, por analogia. É um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo.

“[...] Ó mundo, que és o exílio dos exílios,
Um monturo de fezes putrefato, [...]”

Hipérbole: exagero de uma ideia com finalidade expressiva.

“[...] Mundo de peste, de sangrenta fúria [...]”

Sinestesia: interpretação sensorial, fundindo-se dois sentidos ou mais (olfato, visão, audição, gustação e tato).

“[...] o lânguido perfume mais ingrato
magoa tudo e é triste como o tato
de um cego embalde levantando os cílios; [...]”

Apóstrofe: consiste em interromper a narração para dirigir a palavra a pessoas ausentes ou ao leitor. Sintaticamente, a apóstrofe exerce a função de vocativo dentro de uma sentença.

“Ó mundo, que és o exílio dos exílios, [...]”
“[...] pantéricos, ó Mundo, que não sonhas! [...]”

Ironia: utilização de termo com sentido oposto ao original, obtendo-se, assim, valor irônico.

“[...] onde o ser mais gentil, mais timorato
dos seres vis circula nos concílios; [...]”

Prosopopeia, personificação: é a atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais e inanimados.

“[...] e de flores leprosas da luxúria,
de flores negras, infernais, medonhas; [...]”


Características simbolistas

Loucura: durante todo o poema existe o constante desespero e desprezo do eu lírico em relação as coisas do mundo, relata a solidão (exílio), o abatimento (lânguido), a mágoa, as pessoas inúteis (vis), a tristeza e também a fúria. Tudo isso remete a uma possível depressão, talvez uma raiva liberada por atos que ele sofreu, e agora ele culpa o mundo por isso. Esse conjunto de interpretações sugere, seja depressão, seja raiva, seja ambos, um tipo de loucura.
 
Branco: "pálidos idílios".

Maiúscula alegorizante: Palavra "Mundo", no último verso.

Religiosidade: primeiramente na palavra “concílios” e depois está presente como forma de satanismo, em "infernais".
 
Negro: “flores negras, infernais, medonhas".

Interpretação


Pode-se entender que o autor enoja o mundo e tudo que está nele, pois existe somente tristeza, solidão e mágoa. Tudo que há de bom se torna ruim num mundo podre, com pessoas inúteis (vis) e abatidas. Até mesmo flores, que por natureza são delicadas, viram "negras, infernais, medonhas". Como o próprio título sugere o “mundo” se torna uma condenação inevitável, mesmo que optássemos por não viver desta forma, não haveria opção.

Alunas: Ana Paula Adriano e Kamila Vieira
Turma: 311

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