quinta-feira, 27 de junho de 2013

DEUS DO MAL - (Cruz e Sousa –Últimos Sonetos)





1.  Espírito do Mal, ó deus perverso (A)
2.  Que tantas almas dúbias acalentas, (B)
3.  Veneno tentador na luz disperso (A)
4.  Que a própria luz e a própria sombra tentas; (B)

5.  Símbolo atroz das culpas do Universo, (A)
6.  Espelho fiel das convulsões violentas (B)
7.  Do gasto coração no lodo imerso (A)
8.  Das tormentas vulcânicas, sangrentas; (B)

9.  Toda a tua sinistra trajetória (C)
10. Tem um brilho de lágrimas ilusória (C)
11. As melodias mórbidas do Inferno... (D)

12. És Mal, mas sendo Mal és soluçante, (E)
13. Sem a graça divina e consolante, (E)
14. Réprobo estranho do Perdão Eterno! (D)

Levantamento vocabular do poema, com esclarecimentos de palavras duvidosas

dúbias (dúbio):  (latim dubius, -a, -um, indeciso, hesitante, incerto, duvidoso) adj. Duvidoso; incerto; ambíguo.
acalentas: (origem duvidosa) v. tr. e pron.1. Acalmar ou acalmar-se, geralmente para adormecer e com afagos, com proximidade corporal ou com cantiga. = AMIMAR, EMBALAR, NINAR 2. Tratar com carinho. = ACARINHAR, AFAGAR 3. [Por extensão]  Tornar ou ficar mais calmo. = ACALMAR, AMENIZAR, MITIGAR 4. Dar conforto. = CONFORTAR 5. Manter o incentivo, a esperança (ex.: era um sonho que há muito ele acalentava). = ALIMENTAR, CULTIVAR, NUTRIR.
atroz: adj. 2 g. 1. Cruel e desumano. 2. Que excede quanto é imaginável. 3. Monstruoso.
mórbidas (mórbido):  1. Relativo a doença. 2. Enfermiço. 3. Doentio. 4. Lânguido. 5. [Belas-Artes]  Delicado; suave.
réprobo: adj. s. m. 1. Reprovado, condenado às penas do Inferno; precito. 2. Banido da sociedade.

Características simbolistas no poema

Branco: “Sem a graça divina e consolante,” (verso13)  graça divina” remete à paixão, amor e luz.

Exploração da Musicalidade: O poeta utiliza-se de efeitos sonoros como a aliteração e a assonância, os quais compõem a musicalidade do poema.

- Exemplificação de assonância:

[...]

Que tantas almas dúbias acalentas, (verso 2)


[...]

Que a própria luz e a própria sombra tentas;
(verso 4)
Repetição da vogal: “a”


[...]

Do gasto coração no lodo imerso (verso 7)
Repetição da vogal: “o”

- Exemplificação de aliteração:

[...]

Que tantas almas dúbias acalentas, (verso 2)
Repetição da consoante: “s”
Veneno tentador na luz disperso (verso 3)
Repetição da consoante: “n”


[...]

T
oda a tua sinistra trajetória (verso 9)
Repetição da consoante: “t”

Tem um brilho de lágrimas ilusória
(verso 10)
Repetição da consoante: “m”
As melodias mórbidas do Inferno... (verso 11)
Repetição da consoante: “s”

Os versos em geral, são metafóricos e eufêmicos, sempre usando termos para caracterizar de uma forma amigável o sujeito do soneto, o “Diabo”.

“Espírito do Mal, ó deus perverso
 Que tantas almas dúbias acalentas,
 Veneno tentador na luz disperso
 Que a própria luz e a própria sombra tentas;”



1° linha: Caracterização do “diabo” através da metáfora e do eufemismo.
2° linha: Caracterização das pessoas de conduta duvidosa(más).
3° linha: Referencia as “tentações” do diabo, como no dito popular. Que seriam coisas ruins entre pessoas boas.
4° linha: “própria luz”: sagrado; “própria sombra”: profano.




Verso rico em metáfora, pois “luz” faz alusão à Deus e “sombra” ao Diabo;
Ao mesmo tempo, podemos encontrar
eufemismo, quando usado dois termos para amenizar o impacto do nome dos sujeitos em questão.  Assim como podemos encontrar uma antítese, pois luz é o oposto de sombra.

“Símbolo atroz das culpas do universo
 Espelho fiel das convulsões violentas
 Do gasto coração no lodo imerso
 Das tormentas vulcânicas, sangrentas;”


5° linha: Faz alusão à sociedade, em sua maioria religiosa, que atribui as coisas ruins ao diabo.
6° linha: Faz alusão a Deus “em sua imagem e semelhança”, aproximando Deus do Diabo.
7° e 8° linha: Remete ao pensamento de que o coração do Diabo está tomado pelo mal que ele causa.

“Toda a sua sinistra trajetória
 Tem um brilho de lágrima ilusória,
 As melodias mórbidas do Inferno...”


9° e 10° linha: Traz de todo seu tempo de vida a experiência de enganar.
11° linha: À dito popular, tem-se que o barulho do inferno(melodias) são gritos de horror, dor, pânico e medo. A partir dessa linha de raciocínio, encontramos  eufemismo.


Utilização de maiúsculas alegorizantes: Com a finalidade de absolutizar a palavra e ampliar seu significado, o poeta utiliza-se de letra maiúscula em substantivo comum, recurso este que acaba emprestando-lhe uma conotação absoluta e transcendente, enfatizando a palavra semanticamente e aumentando sua expressividade.

-Exemplificação de maiúsculas alegorizantes:


1ª Estrofe, 1º Parágrafo: Mal
2ª Estrofe, 1º Parágrafo: Universo
4ª Estrofe, 1º Parágrafo: Mal
4ª Estrofe, 3º Parágrafo: Perdão

-Interpretação

O soneto “Deus do Mal”, apresenta a característica preocupação formal de Cruz e Sousa que o aproxima inclusive dos parnasianos.
Fala basicamente que o Diabo não tem o coração bom de Deus que ama e acima de tudo perdoa, e por não ter amor, ele está fadado a nunca ser merecedor do perdão.


 
Alunas: Alessandra Rachadel e Ana Carolina Salomão, 305.




 

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