sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nathiele Muriel e Tayná Trindade
Turma 305 
MUDEZ PERVERSA (Cruz e Souza - Últimos Sonetos)

Que /mu/dez/ in/fer/nal /teus /lá/bi/os /cerra, (A)
Que /fi/cas /va/go, /pa/ra /mim /o/lhan/do, (B)
Na a/ti/tu/de /da /pe/dra, /con/cen/tran/do (B)
No en/tan/to, /n’al/ma, /con/vul/sões /de /guer/ra! (A)

A mim tal fel essa mudez encerra, (A)
Tais demônios revéis a estão forjando (B)
Que antes te visse morto, desabando (B)
Sobre o teu corpo grossas pás de terra. (A)     

Não te quisera nesse atroz e sumo (C)
Mutismo horrível que não gera nada, (D)
Que não diz nada, não tem fundo e rumo. (C)           

Mutismo de tal dor desesperada, (D)
Que quando o vou medir com o estranho prumo (C)
Da alma fico com a alma alucinada!  (D)               


Vocabulário:        

Fel: (substantivo masculino) 1. Humor muito amargo contido numa vesícula aderente ao glóbulo do fígado. 2. Vesícula que segrega esse humor. 3. [Figurado] Amargor; rancor; ódio; mau humor. Plural: feles ou féis.

Revéis: (masculino e feminino plural de revel – adjetivo 2 grau) ( latim rebellis, -e) Revel: 1. Que se rebela, rebelde. 2. Pertinaz, rebelão. 3.Que mostra indiferença ou desdém, esquivo. 4. [Jurídico, Jurisprudência] Diz-se de ou pessoa que, sendo citada para comparecer em juízo, não cumpre a citação, contumaz. Plural: Revéis.

Atroz: (adjetivo – 2 grau) 1. Cruel e desumano. 2. Que excede quanto é imaginável. 3. Monstruoso.
  
Sumo: (adjetivo – substantivo masculino) (latim summus, -a, um, o mais alto, último, extremo, o mais importante) 1. Ponto mais alto, cume. 2. Nível mais alto de algo. 3. Limite máximo. 4. Muito Elevado. 5. Superior a outro ou outros, Excelente. 6. Requinte. 7. Que atingiu o limite máximo, Extremo.

Prumo: (substantivo masculino) 1. Qualquer instrumento destinado a verificar a verticalidade de um objeto. 2. [Figurado] Prudência, tino. 3. Agudeza, penetração, perspicácia. A prumo: perpendicularmente.


ANÁLISE DO POEMA MUDEZ PERVERSA

Figuras de Linguagem:

Metáforas:
“Mudez Infernal”
- O silêncio que tortura, que gera os piores sentimentos por não trazer nunca a tona nenhuma revelação da verdade.

“Na atitude da pedra, concentrando”
- O ato de se manter imerso, imóvel, quase como algo morto e inanimado, como se imitasse a “atitude” de uma pedra.

“Tais demônios revéis a estão forjando”
- As dores e os traumas que provocam a mudez.

“Mutismo de tal dor desesperada,
Que quando o vou medir com o estranho prumo”
- Os versos são metafóricos, pois falam do mutismo como algo que pode ser medido objetivamente, com uma ferramenta (prumo).

Metonímia:
Que mudez infernal teus lábios cerra,
 Que ficas vago, para mim olhando”.
-O autor utiliza os lábios pelo todo do corpo, como se os lábios cerrados do indivíduo o encarassem, e não o indivíduo em si, por inteiro.

Personificação:
Na atitude da pedra, concentrando”
-Nesse verso o autor utiliza da personificação pois dá a pedra (um ser inanimado) a capacidade humana de possuir uma atitude, uma postura.
                                                                                                                            
Paradoxo:
Na atitude da pedra, concentrando
No entanto, n’alma, convulsões de guerra!”
- Por fora calmaria e silêncio absoluto, e por dentro todos os gritos, barulhos, dores e confusões possíveis. Por fora nada, por dentro tudo.                      

Gradação:
Mutismo horrível que não gera nada,                                                                                    
Que não diz nada, não tem fundo e rumo.”        
- Aqui o autor utiliza da gradação, para chamar a atenção do leitor e enfatizar a infertilidade e o vazio desse silêncio.

Características Simbolistas:

Religiosidade: Em mudez perversa há várias referências à religiosidade, como nas citações: “Que mudez infernal teus lábios cerra”; “No entanto, n’alma, convulsões de guerra!”; “Tais demônios revéis a estão forjando”;
“Da alma fico com a alma alucinada!”. Em que o autor cita a “alma” os “demônios” e o “inferno”, características claramente religiosas e de caráter cristão.      
      
Morte: A referência à morte é muito vista no poema, como em:
“Que antes te visse morto, desabando                                                                              
Sobre o teu corpo grossas pás de terra.” Onde o autor cita o ritual de enterro dos mortos.

Loucura: Há a referência clara à loucura no verso:
Da alma fico com a alma alucinada!”

Noite: Todo o poema de mudez perversa nos passa uma atmosfera sombria, de trevas, dor e sofrimento, que está sutilmente ligada à ideia de noite, breu e escuridão.
“Que mudez infernal teus lábios cerra,”
“No entanto, n’alma, convulsões de guerra!”
“Tais demônios revéis a estão forjando”                                                                                  
“Que antes te visse morto, desabando”                                                                                     
“Sobre o teu corpo grossas pás de terra.”
Não te quisera nesse atroz e sumo”
“Mutismo horrível que não gera nada”                                                                                     
“Mutismo de tal dor desesperada”                                                                                             
“Da alma fico com a alma alucinada!”


Interpretação

Segundo Nathiele Muriel e Tayná Trindade: O título nos leva a pensar em alguém que sofre calado, tendo dentro de si um silêncio perverso. E o poema fala do tormento que há nesse silêncio, na mudez de quem esconde grandes dores, do enorme sofrimento sentido por quem carrega tanto desespero em si que termina por calar-se totalmente e já mais nada expressar. Fala do indivíduo que é amordaçado pela sua dor de tal forma que seria melhor vê-lo morto, livre de vez dessa tortura muda capaz de enlouquecer.



OBS: Gostaria de lembrar a professora Stela e a todos os alunos que tiverem acesso a nossa análise pelo blog que, a interpretação de um texto lírico nunca será exata, pois estes retratam sentimentos, coisas figuradas e emocionais que talvez nem os próprios autores entendam com completa clareza. Podemos então na nossa interpretação, colocar o que conseguimos absolver do poema de Cruz e Souza, e não sendo possível explicar exatamente o que queria nos enviar o poeta, explicaremos então exatamente o que pôde chegar às nossas almas.

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